segunda-feira, 11 de junho de 2012

Totem e Tabu (parte I: Horror ao incesto)

Encontro, em vários textos dos meus estudos psicanalíticos sobre os grupos, a menção ao artigo de Freud "Totem e Tabu" (1912-1913), sem contudo tê-lo lido. Pois bem, procurei nesse último fim de semana me aproximar desse interessante artigo, e aqui farei alguns recortes que acho interessantes. Como o texto não é de domínio de todos que aqui leem, farei resgate das passagens que julgo mais importantes, para a compreensão de temas que me interessam para os estudos dos fenômenos grupais.
Cap.I: Horror ao incesto
Sugere-se que se possa fazer a comparação entre a psicologia do homem primitivo e a psicologia dos neuróticos, pois há inúmeros pontos de concordância entre eles, que, de acordo do Freud, lançara luz sobre os fatos.
A base desses homens primitivos são os aborígenes australianos, isso porque são povos que têm pouco contato com outros de sua época. Têm hábitos de convívio pouco desenvolvidos, tais como, não criam animais, vivem da caça, não conhecem a arte da cerâmica etc. E, apesar dessa vida, esses povos estão submetidos a um elevado grau de restrição dos seus instintos sexuais, evitam o incesto.
Sua vida social é baseada no "totemismo". Cada subdivisão tribal australiana, os clãs, tem a denominação de um totem: "O que é um totem? Via de regra é um animal (comível e inofensivo, ou perigoso e temido) e mais raramente um vegetal ou um fenômeno natural (como a chuva ou a água), que mantém relação peculiar com todo o clã" (Freud, 1996, p.22). Os psicanalistas se interessam por esse tema, pois, em sua grande maioria, onde há totem também há uma lei que obriga que, pessoas do mesmo totem, tenham relações sexuais. É a "exogamia", uma situação relacionada com o totemismo.
Há interessantes descrições no texto sobre certos costumes de como as tribos praticam o totemismo. Em uma dessas descrições destacam-se os casos de evitação de um homem com sua sogra: são praticamente impensáveis as comunicações entre o homem e sua sogra, podendo ser consideradas como medidas protetoras contra o incesto, ou como um "corte" de relações ou de não-reconhecimento do homem, por ele se tratar de um estranho, até nascer o primeiro filho. Nos tempos mais civilizados não há dúvida que existe uma relação psicológica hostil entre sogra e genro, o que torna difícil a convivência entre ambos. Do lado da sogra há uma relutância em abrir mão de sua filha, dá-la a um estranho? A sogra perderia sua posição dominante dentro de sua própria casa? O genro, por outro lado, não quer se submeter a vontade dessa, que possui a afeição sobre a sua esposa antes dele. A sogra é a resistência que o atrapalha na sua supervalorização ilusória com origem nos seus desejos sexuais. A sogra, além disso, também tem características que lembram a filha, mas carece dos encantos da juventude, beleza e vivacidade que fazem com que sua esposa seja atraente a ele. Interpreto do texto que há ainda outra razão para que o genro tenha aversão a sua sogra: ele escolheu como objeto de amor sua mãe, mas devido ao incesto, seu amor é desviado dela para um objeto externo, modelado sobre ela. O lugar de sua mãe é agora assumido pela sua sogra. Ele não pode recair sobre a sua escolha original e luta para que isso não aconteça. Além disso, a sogra é uma pessoa nova na sua vida de modo que não existe uma representação dela no seu inconsciente. Apesar disso, ela realmente é alvo de seus sentimentos, é uma tentação ao incesto, mas conseguirá transferir esta flecha do amor para a filha dela.

Referência
Freud, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

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