quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Educação e Poder?

     Estou lendo o livro "Educação e Poder" de Michael W. Apple e gostaria de realizar algumas considerações sobre o capítulo 3 que li ontem. O autor nos apresenta que tipos de relações podem existir entre a escola, com seu currículo oculto, e o trabalho geral. Em particular nos é apresentado a correlação entre currículo oculto e as relações de trabalho necessárias no mundo atual.
Capa do livro Educação e Poder, de M.W.Apple, 2ª edição.

Primeiro é bom que fique claro que com currículo oculto o autor se refere àqueles elementos que não estão explícitos no ensino do conhecimento sistematizado, mas que são subliminares e na maior partes da vezes invisível às classes que estão submetidas aos processos neoliberais (o capitalismo, o taylorismo e estes ismos modernos).
     Na primeira parte o autor descreve que este currículo oculto possui elementos de subordinação aos meios e formas de produção* do capitalismo e que é difícil que vários elementos do trabalho não sejam de alguma forma incorporados aos processos de ensino, como por exemplo, a subserviência aos patrões, o mecanicismo nas tarefas, a falta de liderança e de agrupamentos para reivindicarem melhores condições de trabalho.
     Na segunda parte o autor também apresenta um contraponto de que as condições de trabalho não necessariamente se espelham nas escolas, sob a forma de currículo oculto. Com isso ele faz menção a diversas ações que os trabalhadores desenvolvem durante a sua jornada diária e que não são ensinadas nas escolas para a formação desta força de trabalho passiva. Por exemplo, há empregados que quando são colocados sob novas formas de produção como um torno eletrônico, em que o trabalhador apenas liga e desliga um botão, começam a modificar seu ritmo de trabalho para evitar que a produção aumente muito quando comparada sem o uso deste torno. Há ainda trabalhadores que impõe produções lentas para que justamente os menos aptos a produzirem no ritmo desejado pelos patrões sejam capazes de acompanhar as mudanças.
     Ainda há situações em que trabalhadores produzem produtos extras não para si, mas para um dia em que eles possam ter um dia não muito bom de produção, devido a problemas pessoais, de saúde, etc. Além disso, podem produzir em excesso para colegas que não estão aptos a produzir no desejado.
     Há outras considerações sobre o trabalho das mulheres em escritórios e lojas, que conduzem ao mesmo tipo de rebeldia oculta no trabalho, das quais os patrões não conseguem escapar.
     Os patrões também demonstram compreender este fenômenos alterando periodicamente os meios de produção, mesmo assim os trabalhadores novamente se articulam em novas formas de desviar e ludibriar o patronado.
     Nisso fica claro que estas artimanhas dos trabalhadores não são ensinadas na escola, nem no currículo oficial, muito menos no oculto. É desta forma que Apple avisa que nem sempre o currículo oculto da escola é um espelho das relações trabalhistas e patronais - ou das relações do sistema do capital -, conforme alguns autores citados no capítulo fazem entender.

* aqui não me refiro exatamente as definições dadas por K.Marx para as expressões "meios de produção" e "formas de produção", pois não quero densificar este pequeno texto, isto é, que sejam dadas interpretações, ainda que ingênuas, destes conceitos já se basta para compreender a mensagem.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Dimensão narrativa e lógica formal no ensino das Ciências

           Ontem a tarde no seminário de ensino do IF-USP, do programa de pós-graduação onde realizo meu doutorado, o tema foi "A dimensão narrativa do pensamento científico: Aspectos teóricos e implicações ao ensino", dado pelo Prof. Ivã Gurgel, Instituto de Física - USP.
           O professor Ivã nos apresentou o pensamento de J.Bruner em que este dicotomiza o pensamento lógico-matemático (lógica formal) x pensamento narrativo. Foi muito interessante a análise do professor Ivã sobre as narrativas de Galileu Galilei sobre a Lua e suas montanhas: Galileu elaborou toda uma construção acerca de sua ideia - correta - de que a Lua possui montanhas e vales.
           Ivã também apresentou pesquisas suas sobre como Oersted e Àmpere "criaram" a ideia - e o nome - para o fenômeno da "corrente contínua". Apesar do fenômeno elétrico da descarga elétrica estar associado a ideia de um fluido, a concepção que se poderia ter um fenômeno elétrico que nos possibilitaria uma corrente não de descarga, mas contínua, foi apresentada - cabe lembrar que este fenômeno foi corretamente descrito por estes cientistas por volta de 1820. É interessante observar que usei a palavra "criaram", pois até então esta ideia de corrente + contínua não existia, também eu observo que a palavra "corrente" nos dá a sensação de algo ligado ou conectado e o "contínua" que isso com o passar do tempo acontece.
           A ideia do passar o tempo também é muito lembrada pelo professor, pois as narrativas dos cientistas acima citados se dá sempre ao longo do tempo, ou seja, todos os fenômenos possuem um aspecto temporal... tic... tac.
           Por último conversei com o Ivã e o lembrei que também imagens ou esquemas possuem importância como pensamento simbólico, algo a mais a ser considerado nos esquemas de pensamento de Bruner. Contudo Ivã lembrou que animações ou filmes possuem narrativas que se desenvolvem temporalmente. Concordamos neste aspecto.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Contos fantásticos do séc. XIX

          Estou a ler o livro "Contos fantásticos do século XIX" cujo organizador, Italo Calvino, escolheu os mais típicos representantes do séc.XIX para narrar histórias precursoras das nossas atuais ficções científicas. Este livro foi indicado no seminário de ensino pelo prof. Zanetic (veja aqui meu texto aqui no blog sobre este tema).
          Já li metade do livro e as história são, ao meu ver, bastante ingênuas, mas possuem um toque de magia e mistério bem diferentes daquelas que estamos acostumados do tipo hollywoodianas hodiernamente. De início, no prólogo, o autor descreve que escolheu autores representativos do século XIX e que se limitou a no máximo 50 páginas para cada um, além de somente um texto por autor para a obra. O livro foi pela primeira vez editado na Itália em dois volumes, mas no Brasil estes foram transformados em um só.
          Fica aqui então a dica de um bom livro sobre contos do século XIX para aqueles que não querem dispender dinheiro comprando vários livros de vários autores.

domingo, 6 de novembro de 2011

Mais uma etapa do processo de mudança exigida no doutorado

           Um processo de catarse me está sendo necessário para que eu consiga raciocinar sobre os novos processos de pesquisa que estou conhecendo neste doutorado. Não é fácil mudar de um paradigma quantitativo para um qualitativo. Um dos pontos interessantes aconteceu na aula de 31.out.2011, durante a aula da prof.a Marília Sposito, pois fiz uma certa crítica na apresentação de um colega sobre a escolha da revista a servir de referencial num projeto da área social ou humanas, pois não entendia os critérios sobre a escolha de determinado periódico a ser escolhido, em particular critiquei a falta de explicitação do parâmetro de impacto do periódico.
           Contudo fui avisado e descobri que as revistas das áreas da humanas ou sociais não apresentam parâmetro de impacto. Este parâmetro serve como referencial em termo de peso para que saibamos qual o número de citações são feitas a determinado artigo publicado ou como um determinado artigo influencia uma cadeia de publicações. Foi-me dito que o parâmetro usado na área de humanas está baseado nas categorias que a CAPES usa, os Qualis A, B e C.
           Interessante que revistas das ciências naturais extremamente conceituadas - como Nature ou Science - usam intensivamente este parâmetro e alguns concursos públicos de docentes também o utilizam - pelo menos quando se realizam pontuações máximas.
           Obtive a seguinte descrição da CAPES para um periódico Qualis A1: "Publicação amplamente reconhecida pela área, seriada, arbitrada e dirigida prioritariamente à comunidade acadêmico-científica, atendendo a normas editoriais da ABNT ou equivalente (no exterior). Ter ampla circulação por meio de assinaturas/permutas para a versão impressa, quando for o caso, e on-line. Periodicidade mínima de 3 números anuais e regularidade, com publicação de todos os números previstos no prazo. Possuir conselho editorial e corpo de pareceristas formado por pesquisadores nacionais e internacionais de diferentes instituições. Publicar, no mínimo, 18 artigos por ano, garantindo ampla diversidade institucional dos autores: pelo menos 75% de artigos devem estar vinculados a no mínimo 5 instituições diferentes daquela que edita o periódico. Garantir presença significativa de artigos de pesquisadores filiados a instituições estrangeiras reconhecidas (acima de dois artigos por ano). Estar indexado em, pelo menos, 6 bases de dados, sendo, pelo menos 3 internacionais".
           Pode ser que todas as exigências acima tragam uma boa qualidade a revista, mas ainda falta o impacto que certas publicações possuem na comunidade acadêmica. Não estou aqui para escrever um documento extenso sobre o Qualis da CAPES, mas fiquei impressionado e muito pensativo com a fala que foi feita na aula.