“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver” (Amyr Klink)
sábado, 19 de abril de 2014
quinta-feira, 20 de março de 2014
O questionário
Causa-me uma certa angústia em que local e com que intenções é aplicado um questionário para determinar as condições de saúde da minha instituição, perguntas são feitas de forma muito genérica sem levar em conta as condições reais do setor.
Angústia local porque foi aplicado dentro de uma associação de professores que não me parecer fazer a melhor representação do que se tem como proposta fundadora dessa instituição. Angústia pelas intenções do questionário porque tinham perguntas tendenciosas para legitimar ações desse mesmo sindicado?
Realmente é de se lamentar ações desse tipo.
Angústia local porque foi aplicado dentro de uma associação de professores que não me parecer fazer a melhor representação do que se tem como proposta fundadora dessa instituição. Angústia pelas intenções do questionário porque tinham perguntas tendenciosas para legitimar ações desse mesmo sindicado?
Realmente é de se lamentar ações desse tipo.
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Em 2014...
Em 1º de janeiro de 2014 terei vivido 15.037 dias (41 anos, 2 meses e um
dia ou 360.888 horas ou 21.653.280 minutos ou 1.299.196.800 segundos)
com algumas experiências e com muitos estudos e espero viver no mínimo o
mesmo tanto com muito mais experiências e com muitos outros desafios!
Assim, desejo que minhas próximas 360.888 horas que se iniciam em 2014 venham com boas experiências e desafios ainda maiores!
Que 2014 venha para nós como um ano de mais esperanças, muito trabalho aprazível e como bom efeito dos anos anteriores!
Desejo também a todos de todas as culturas uma feliz passagem de ano!
Assim, desejo que minhas próximas 360.888 horas que se iniciam em 2014 venham com boas experiências e desafios ainda maiores!
Que 2014 venha para nós como um ano de mais esperanças, muito trabalho aprazível e como bom efeito dos anos anteriores!
Desejo também a todos de todas as culturas uma feliz passagem de ano!
terça-feira, 13 de agosto de 2013
Sr.s estou devidamente qualificado! Hoje foi a minha qualificação no Instituto de Física da USP. Agradeço aos professores que participaram deste momento: Alberto Villani (IFUSP), Maria da Graça Setton (FEUSP) e Elisabeth Barolli (Unicamp).
Agora vamos pra frente porque tem muita coisa a ser (re)feita!
Abraços...
Agora vamos pra frente porque tem muita coisa a ser (re)feita!
Abraços...
sábado, 24 de novembro de 2012
Psicologia de grupo e a análise do ego (1921)
Retorno às escritas aqui do Blog novamente pedindo desculpas pelo atraso em novas postagens - afinal a última postagem foi em 12 jun.2012 (!) - e na suspensão temporária da parte III do meus comentários sobre "Totem e Tabu", de Freud.
Aqui hoje pretendo fazer comentários sobre um leitura que fiz por indicações recorrentes que aparecem no livro "O grupo e o inconsciente: o imaginário grupal", de Didier Anzieu. Em breve farei também postagens sobre o conteúdo deste livro.
O texto que analiso de forma bastante elementar, escrito em 1921 por Freud é "Psicologia de grupo e a análise do ego" (leia na Wikipédia um resumo), composto de XII (doze) seções.
Na seção I "Introdução" fica claro que o ser humano é algo mais que um ser que deve apenas ser tomado na sua individualidade, ou seja, ele é um ser que está em constante relação com os outros. As relações que um indivíduo estabelece com sua família, com o seu objeto de amor, com os outros ou com a realidade podem reivindicar uma pesquisa psicanalítica social (ou de grupo), contrastada com àquela desenvolvida levando-se em conta a satisfação dos instintos do indivíduo que procura, de forma parcial ou total, retirar a influência de outras pessoas. Essa psicologia de grupo interessa-se pelo indivíduo como membro de uma nação, de uma casta, de uma profissão, de uma instituição ou como parte de uma multidão de pessoas que se organizam em grupo, num momento determinado e com um objetivo em comum. Essa nova "posição" assumida pelo indivíduo parecer fazer com que ele modifique seus comportamentos, algo de novo surge, um instinto o faz jogar o jogo de outra forma que é diferente daquela em que jogava enquanto não pertencente ao grupo.
Na seção II "A descrição de Le Bon da mente grupal" parte-se de citações da obra de Le Bon (Psychologie des Foules, 1855) para analisar considerações prévias sobre a "mente" grupal. O que é então um "grupo"? Como ele consegue influenciar tanto e de maneira decisiva a vida mental de um indivíduo? E qual é a natureza dessa alteração mental? É pela última dessas questões que Freud intenciona começar a usar as ideias de Le Bon, pois é através da observação das alterações das reações dos indivíduos que temos material para a psicologia dos grupos. A seguir são citados vários trechos da obra de Le Bon em que o autor descreve os comportamentos dos indivíduos num grupo. Resumidamente afirma que os indivíduos num grupo, independente de quem sejam, colocam-se numa espécie de mente coletiva que os faz agir, pensar e sentir de uma maneira muito diferente daquela que cada um faz quando em estado de isolamento - cada "célula" (indivíduo) tem um comportamento no grupo diferente daquela célula quando isolada das demais (dos outros indivíduos). Le Bon destaca o papel do inconsciente como preponderante na vida, ressaltando que muitas características e atos proveem dessas causas secretas, desses motivos ocultos que fogem à nossa observação consciente e Freud comenta que as funções inconscientes, semelhantes a todos, são expostas à vista. Le Bon acredita que surgem nos indivíduos, quando numa situação grupal, três fatores diferentes: 1 O indivíduo adquire um sentimento de poder invencível, como consequência desaparece o sentimento de responsabilidade, responsável por controlar os indivíduos (manifestações do inconsciente, no qual tudo que é mau na mente humana existe como uma pré-disposição, ou seja, o conjunto de "regras" sociais dominadas pela consciência desaparecem), 2 O contágio do comportamento do grupo retira do indivíduo seu interesse pessoal, sacrificando ao interesse coletivo, 3 E a sugestionabilidade a que o indivíduo está submetido pelo operador do grupo que o privou de sua liberdade consciente, podendo assim até cometer atos contra o seu caráter e hábitos - ele está "fascinado", encontra-se nas mãos do hipnotizador (operador). Le Bon ainda destaca a redução da capacidade intelectual de um indivíduo quando se funde num grupo. Freud destaca a falta de clareza de Le Bon em descrever esse hipnotizador, quem é ele? Em seguida, destaca-se a relação entre a mente grupal e a mente dos povos primitivos, em que ideias contraditórias podem coexistir e serem toleradas, sem que apareça contradição lógica entre elas, como também é o caso da mente inconsciente dos indivíduos, das crianças e dos neuróticos.
Os grupos exigem ilusões e não vivem sem elas, dão precedência ao irreal em oposição ao real, são influenciados de maneira igual pelo falso ou pelo verdadeiro, não distinguindo entre as duas coisas. Freud destaca que a predominância de uma vida fantasiada e com ilusão, que nasce de um desejo irrealizado, é o fator dominante nas neuroses, ou seja, os neuróticos são guiados pela realidade psicológica e não pela realidade objetiva. Assim, um grupo deixa em segundo plano a função da verificação da realidade das coisas e põe em prioridade a força dos impulsos do desejo.
Na seção III "Outras descrições da vida mental coletiva" Freud destaca que as grandes decisões de pensamento, das soluções dos problemas e dos momentos de descobertas somente são possíveis aos indivíduos em trabalhos isolados, apesar dos grupos se destacarem em atividades como a linguagem, canções e similares. Contudo fica a dúvida: o indivíduo consegue atingir essas conquistas devido ao seu intenso convívio e estímulo com os outros, ou são os outros que aperfeiçoam o indivíduo para que ele atinja essas conquistas? Outro autor é convidado a auxiliar nas ideias, McDougall, afirma que para que uma multidão possa se constituir num grupo esses indivíduos possuem algo em comum uns com os outros, um objeto de interesse em comum ou uma situação emocional que dê certa influência recíproca entre seus constituintes. Quanto mais intenso essa "homogeneidade mental", mais prontamente os indivíduos manifestam uma "mente grupal". Apesar de toda a descrição de McDougall sobre grupos, suas características e tal, ainda fica o problema em como conseguir definir para o grupo aquelas características que eram do indivíduo e no grupo se extinguiram pela formação do grupo?
A seção IV "Sugestão e libido" trata da "sugestão" que pessoas exercem e sofrem num grupo. Freud utiliza o conceito de libido para esclarecer a psicologia de grupo e melhorar a ideia da sugestão.
Assim libido é o nome dado à energia, a essa magnitude dos instintos que têm a ver com tudo o que pode se dizer sobre a palavra "amor". Amor aqui entendido por amor sexual - a união sexual como objetivo, mas também amor próprio, ao próximo, pelos pais, filhos, pela amizade e, enfim, o amor geral pela humanidade, por objetos reais e pelas ideias. Todas essas expressões do amor são guiadas pelo mesmo impulso instintual sexual. Assim, a suposição que se faz é que a essência da mente grupal também está baseada em relações amorosas, ou laços emocionais. O que mantém um grupo unido senão a força do amor? Por que um indivíduo abandona sua distintividade num grupo e permite ser influenciado por sugestão dos demais? Para estar em harmonia com eles, ou ainda estar em oposição a eles.
Na seção V "Dois grupos artificiais: a igreja e o exército" foca-se o problema em grupos com líderes, a saber, em duas estruturas grupais altamente organizadas, permanentes e artificiais: as igrejas e os exércitos. Artificiais porque existe uma força externa coercitiva que impede de desagregarem-se e evitarem modificações em suas estruturas. Nesses grupos prevalece a ilusão de que há uma cabeça, um líder, que comanda (igreja católica Cristo, exército o comandante-chefe) e ama a todos os indivíduos do grupo com amor igual. Essa ilusão é essencial, sem ela esses grupos se dissolveriam, o chefe é um irmão mais velho, um pai substituto. Nesses grupos as ligações libidinais acontecessem entre o indivíduo e o líder e entre todos os membros do grupo uns para com os outros, ocasionando assim um laço emocional tão intenso que obriga os indivíduos a limitar sua personalidade. Freud também descrever situações de pânicos nesses grupos e relaciona algumas situações de dissolução desses devido a falta de uma estrutura libidinal do grupo.
Na seção VI "Outros problemas e linhas de trabalho" várias outras considerações sobre os grupos são colocadas dentre as quais a situação de grupos com ou sem líderes, líderes secundários, ideias que podem substituir o líder etc. Contudo Freud continua na linha de que os laços libidinais dão conta de caracterizar esse tipos de grupos. Ele afirma que a psicanálise já apresentou provas que demonstram que a relação emocional íntima entre duas pessoas que perdura um certo tempo contém sentimentos de aversão e hostilidade, e que esses só escapam à percepção em consequência da repressão. Mas num grupo essa intolerância se desvanece de forma temporário ou permanente. Os componentes do grupo se comportam como se fosse uniformes, toleram-se, igualam-se e não sentem aversão por eles. Essa tal limitação do narcisismo somente acontece pelo laço libidinal com outras pessoas. O amor a si mesmo não resiste ao amor pelos outros, ao amor por objetos. A amor atua como fator civilizador, modificando o egoísmo em altruísmo.
Na seção VII "Identificação" sabe-se que a identificação é tida como a mais remota expressão de um laço emocional com o outro. Tem relação com o complexo de Édipo, um menino identifica-se com o pai que é o seu ideal (seu modelo) e para com a mãe a identifica como um objeto sexual. Com o tempo ambas as identificações se unificam culminando no complexo de Édipo, podendo até ocorrerem inversões em quem é o modelo e quem é o objeto sexual, mas o que é essencial é perceber que o ego se molda segundo o aspecto daquele que foi tomado como modelo. O objeto escolhido regrediu para a identificação, o ego assume as características do objeto. Contudo ainda há uma outra possibilidade de identificação: uma identificação baseada na possibilidade ou no desejo de colocar-se na mesma situação, isto é, surge uma percepção de uma qualidade comum partilhada com alguma outra pessoa que não é objeto de instinto sexual (empatia?).
Partindo de uma descrição da melancolia Freud cria uma nova instância crítica dentro do ego que assume uma atitude crítica para com esse. É o "ideal do ego" que assume a auto-observação, a consciência moral, a censura dos sonhos e o papel de repressor. Quando um homem não está satisfeito com seu próprio ego pode encontrar satisfação no ideal do ego que se diferenciou do ego.
Seção VIII "Estar amando e hipnose". Estar amando resgata a ideia da supervalorização sexual: o objeto amado desfruta de liberdade quanto à crítica, suas características são altamente valorizadas comparada a outras pessoas não igualmente amadas. Caso os impulsos sexuais estejam eficazmente inibidos, produz-se a ilusão de que o objeto agora é sensualmente amado devido aos seus méritos espirituais. Essa tendência que falsifica o julgamento é a idealização, nosso objeto está sendo tratado da mesma maneira que tratamos nosso próprio ego, quando amamos uma quantidade considerável de libido narcisista transborda para o objeto e, por fim, o objeto consumirá todo o ego! O auto-amor do ego se sacrificará para o objeto, haverá traços de humildade, limitação do narcisismo e outros danos causados a si próprio por estar amando. Em situação de um amor infeliz e que não pode ser satisfeito o ideal do ego pode perder a sua força, podendo o objeto ser colocado no lugar do ideal do ego. Então a diferença entre a identificação e estar amando para o ego é que no primeiro as propriedades do objeto foram introjetadas e no segundo ele se entregou integralmente ao objeto. Assim entre estar amando e a hipnose existe a mesma relação para o objeto amado. O hipnotizador contudo será colocado no lugar do ideal do ego, ele será o único objeto e será o responsável por verificar a realidade das coisas. A relação hipnótica é a devoção ilimitada a alguém enamorado, mas sem a satisfação sexual, mas no caso real de se estar amando esta satisfação sexual é temporariamente refreada e fica em segundo plano, como um objeto para ocasião posterior.
Assim Freud fornece uma fórmula para a constituição libidinal dos grupos com líderes: Um grupo primário desse tipo é um certo número de indivíduos que colocaram um só e mesmo objeto no lugar de seu ideal do ego e, consequentemente, se identificaram uns com os outros em seu ego.
Seção IX "O instinto gregário". Freud utiliza das ideias de Trotter sobre o instinto gregário ou instinto de rebanho para deixar mais claro a influência da sugestão sobre os grupos. Trotter defende a ideia que o instinto gregário é inato aos seres humanos e a outras espécies animais. Sozinho um indivíduo sente-se incompleto. Nesse instinto gregário Freud afirma que todos devem ser o mesmo e ter o mesmo. A justiça social que se estabelece é a de que negamos muitas coisas a fim de que os outros tenham de passar em elas, ou não possam pedi-las.
Seção X "O grupo e a horda primeva". A hora primeva possui um macho poderoso que é um governante despótico. O grupo é uma revivência dessa horda, onde nesse grupo os indivíduos achavam-se sujeitos a vínculos, mas o pai da horda primeva era livre. Seus atos eram fortes e independentes e sua vontade não necessitava do reforço dos outros. Assim, seu ego possuía poucos vínculos libidinais, ou seja, ele não amava alguém a não ser a si próprio, ou a outras pessoas na medida em que atendiam às suas necessidades. Hoje os grupos possuem líderes com essas mesmas características. Na morte do líder da horda primeva alguém o substituía e se tornava um novo líder com essas mesmas características, assim deve ser possível fazer uma transformação da psicologia do grupo para uma psicologia individual. O pai primevo impedira os filhos de satisfazer seus impulsos sexuais, forçara-os à abstinência, forçara-os à psicologia de grupo, seu ciúme e intolerância sexual foram as causas da psicologia de grupo. O seu sucessor adquiriu as possibilidades de satisfação sexual e, desta forma, ele saiu da psicologia de grupo. O pai primevo é o ideal do grupo, que dirige o ego no lugar do ideal do grupo.
Seção XI "Uma gradação diferenciada no ego". Cada indivíduo partilha atualmente de numerosas mentes grupais e também pode elevar-se sobre elas, desde que possua características de independência e originalidade. Freud também discorre sobre situações da melancolia.
Seção XII "Pós-escrito". Alguns pontos que não foram tocados nas seções anteriores são aqui retomados: A. A distinção entre a identificação do ego com um objeto e a substituição do ideal do ego por um objeto. B. A passagem da psicologia de grupo para a psicologia individual. C. Sobre os instintos sexuais e os instintos inibidos. D. Que os instintos sexuais são desfavoráveis para a formação de grupos. E. Uma comparação entre estar amando, hipnose, formação grupal e neurose.
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Voltando...
Sr.s depois de um bom tempo sem postar prometo em breve retornar aqui para escrever no blog!
Só posso dizer que minha vida mudou bastante nesses dias que fiquei afastado: conheci ainda mais uma pessoa muito especial e outras interessantes, passei por situações psíquicas difíceis e por momentos ruins de saúde - principalmente um cálculo renal.
Mas estou de volta!
Só posso dizer que estou muito feliz com as perspectivas que se apresentam para mim neste fim de 2012!
Até breve....
Só posso dizer que minha vida mudou bastante nesses dias que fiquei afastado: conheci ainda mais uma pessoa muito especial e outras interessantes, passei por situações psíquicas difíceis e por momentos ruins de saúde - principalmente um cálculo renal.
Mas estou de volta!
Só posso dizer que estou muito feliz com as perspectivas que se apresentam para mim neste fim de 2012!
Até breve....
terça-feira, 12 de junho de 2012
Totem e Tabu (parte II: Tabu e ambivalência emocional)
Nesta segunda parte, e dando continuidade a postagem anterior, vou descrever pontos que acho mais interessantes da seção II do artigo sobre "Totem e Tabu" de S. Freud.
'Tabu' sendo um termo polinésio pode significar, para nós, 'sagrado', 'consagrado' ou ainda 'misterioso', 'perigoso', 'proibido', 'impuro'. São proibições e restrições, algo inabordável. Apesar de, aparentemente, os tabus não possuírem fundamento e serem de origens desconhecidas, muitas vezes não inteligíveis para nós, são dominantes para àqueles que as aceitam.
A punição pela violação de um tabu, originalmente, era deixada para que o próprio tabu se vingasse. Mas numa fase posterior, quando deuses e espíritos foram inventados, os quais os tabus foram associados, esperava-se que a penalidade proviesse do poder divino ou que a própria sociedade, submissa ao tabu, encarregava-se da punição. Pessoas ou coisas consideradas tabu parecem ser um corpo carregado com eletricidade; possuem imenso poder que se transmite ao contato, podendo, inclusive, destruir aquele que o toca, pois esse que toca é fraco demais para aguentar a 'descarga'. Reis e chefes possuem esse grande poder do tabu e dirigir-se a eles pode ocasionar a morte daquelas pessoas que são muito inferiores a eles, mas agentes intermediários podem ser a ponte entre esse vale, entre essas hierarquias 'distantes', assim desempenhavam essa função os sacerdotes.
Os tabus sobre os animais, segundo os povos primitivos australianos, que consiste basicamente em não matá-los e comê-los, constituem o totemismo. Aqueles tabus sobre os seres humanos restringem-se, primeiro, a circunstâncias: rapazes são tabu numa cerimônia de iniciação, mulheres mestruadas ou após o parto, recém-nascidos, pessoas enfermas ou os mortos. Em segundo, elementos em que um humano possa fazer uso costumeiro é um tabu permanente para outros: vestuário, ferramentas ou armas. E outros tabus, são impostos aos seres inanimados: árvores, casas, plantas e localidades. Qualquer coisa que seja misteriosa ou provoque temor pode se tornar um tabu.
Freu evidencia que tanto os tabus como as doenças neuróticas, dentre elas aquelas com sintomas obsessivos, são igualmente destituídas de motivo, ambas misteriosas em suas origens. As práticas do tabu e dos sintomas obsessivos que concordam são (Freud, 1996, p.46): (1) o ato de faltar às proibições motivo qualquer atribuível; (2) mantidas por necessidade interna; (3) deslocáveis e podem infeccionar o outro, isto é, podem ser passadas pelo contato ou pelo olhar, infectando o outro ou alguma coisa que pode, por efeito dominó, infectar algo ou alguém e assim por diante; (4) a criação de dificuldades para a realização de ações cotidianas ou cerimoniais. Há ainda um exemplo, de um caso clínico, de como essas práticas podem ser vistas numa criança que possui um conflito interno, uma ambivalência, entre o seu instinto e proibições externas (Freud, 1996, p.46-47).
O tabu aos mortos, expresso pela hostilidade inconsciente sobre os demônios - demônios esses que nascem da insatisfação do morto, intensamente insatisfeito com a sua morte, tornando então sua alma vingativa; com inveja dos vivos (Freud, 1996, p.73) - é ambivalente, no sentido que, de um lado, tem-se medo dos demônios e, no outro, faz-se a veneração aos ancestrais. Aqui o luto tem a missão psíquica de desligar dos mortos as lembranças e esperanças dos sobreviventes. Quando isso acontece o sofrimento aos poucos diminui e, consequentemente, também o medo aos demônios. Os espíritos que antes foram temidos agora recebem um tratamento mais cordial, são até reverenciados como ancestrais.
Por último, e já pulando várias páginas interessantíssimas, diferenciasse a neurose de uma criação cultural como é o tabu. Nos povos primitivos a violação de um tabu acarreta em severas punições ao infrator, como morte ou doença grave. Nas neuroses, por outro lado, o paciente teme que se fizer algo proibido, o castigo não cairá sobre si mesmo, mas sobre outra pessoa. O homem primitivo, parece, é egoísta enquanto o neurótico é altruísta.
"A natureza associal das neuroses tem sua origem genética em seu propósito mais fundamental, que é fugir de uma realidade insatisfatória para um mundo mais agradável de fantasia. O mundo real [...] é evitado pelos neuróticos [que] se acha sob a influência da sociedade humana e das instituições coletivamente criadas por ela. Voltar as costas à realidade é, ao mesmo tempo, afastar-se da comunidade dos homens" (Freud, 1996, p.85).
O tabu aos mortos, expresso pela hostilidade inconsciente sobre os demônios - demônios esses que nascem da insatisfação do morto, intensamente insatisfeito com a sua morte, tornando então sua alma vingativa; com inveja dos vivos (Freud, 1996, p.73) - é ambivalente, no sentido que, de um lado, tem-se medo dos demônios e, no outro, faz-se a veneração aos ancestrais. Aqui o luto tem a missão psíquica de desligar dos mortos as lembranças e esperanças dos sobreviventes. Quando isso acontece o sofrimento aos poucos diminui e, consequentemente, também o medo aos demônios. Os espíritos que antes foram temidos agora recebem um tratamento mais cordial, são até reverenciados como ancestrais.
Por último, e já pulando várias páginas interessantíssimas, diferenciasse a neurose de uma criação cultural como é o tabu. Nos povos primitivos a violação de um tabu acarreta em severas punições ao infrator, como morte ou doença grave. Nas neuroses, por outro lado, o paciente teme que se fizer algo proibido, o castigo não cairá sobre si mesmo, mas sobre outra pessoa. O homem primitivo, parece, é egoísta enquanto o neurótico é altruísta.
"A natureza associal das neuroses tem sua origem genética em seu propósito mais fundamental, que é fugir de uma realidade insatisfatória para um mundo mais agradável de fantasia. O mundo real [...] é evitado pelos neuróticos [que] se acha sob a influência da sociedade humana e das instituições coletivamente criadas por ela. Voltar as costas à realidade é, ao mesmo tempo, afastar-se da comunidade dos homens" (Freud, 1996, p.85).
... continua na parte III ...
Referência
Freud, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
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