quarta-feira, 14 de março de 2012

Entre a visão estruturante do mundo e a visão filosófica da mecânica quântica

Após um bom tempo de pausa volto aqui descrevendo os acontecimentos que aconteceram nesta semana e que continuam a me trazer clareza sobre as posturas que tenho adquirido ao longo de minha vida.

Cada do livro "O Processo Civilizador",
de Norbert Elias.
Na segunda-feira pela manhã começamos os estudos sobre o sociólogo Norbert Elias, com a professora Maria da Graça Setton da FEUSP, onde nos foi solicitado a leitura, dentre outras, do livro "Norbert Elias por ele mesmo". No mesmo dia consegui terminar o livro, pois o li com muito gosto lá na biblioteca da FFLCH-USP - o motivo era o ar-condicionado do local!
Pois bem, Elias é realmente um sociólogo impressionante pela vivacidade e busca da clareza nos temas que pesquisa. Deixou-me bastante surpreso o fato de desde muito cedo já ter uma não posição política, ou melhor, de não ter preocupações ideológicas para a esquerda, direita ou centro com relação ao próprio governo do seu país ou cidade ou qualquer outro local em que se encontrasse, mesmo no caso da Alemanha na primeira guerra mundial. Isto o colocou numa posição talvez neutra em muitos conflitos, mesmo tendo participado no front da primeira guerra mundial. Por exemplo, quando da ocasião que estava presente num discurso em praça pública de Hitler, Elias não afirma que Hitler era ruim ou bom, mas que possuía um discurso voltado para as massas que o impressionou muito. O autor também já sabia desde cedo que queria fazer algo relevante para a sociedade e que seria um pesquisador/professor universitário, passou a sua vida toda procurando ser reconhecido como um acadêmico que buscava desenvolver mudanças relevantes e úteis nas pesquisas acadêmicas afirmando que buscava uma "nova revolução copernicana do pensamento e da sensibilidade".
As suas experiências vividas em atividades de fábrica (indústria), no exército, nos movimentos sociais políticos, nas academias por onde passou, nas situações antissemitas que vivenciou, não alteraram a postura de um homem bem claro nas suas metas. Uma delas é o desvelar dos fatos a todo custo, esclarecendo, revelando, as ideologias que estão encobrindo as verdadeiras intensões dos fenômenos sociais, até mesmo afirma que Max Weber e Karl Marx elaboraram teorias sociológicas belas, mas com campos de aplicação extremamente carregados de ideologias.
Com uma formação em medicina e filosofia, Elias pode ser considerado um dos fundadores da sociologia, alguém que não precisou, e nem tinha como, passar por um processo acadêmico de formação (ou formatação?) do pensar sociológico. O que trouxe vantagens metodológicas claras sobre como abordar os temas que escreveu ao longo dos seus 93 anos (1897-1990).
Temas que seriam muito estranhos até mesmo hoje, mas que o autor soube muito bem articular entre o fato social aparentemente comum experimentado no cotidiano com as construções históricas sociais vividas pelas sociedades. Em particular sugiro ao leitor o livro "O Processo Civilizador" onde o autor descreve normas de etiquetas, suas gêneses e processos históricos, tudo isso agregado as análises sociais, históricas e, talvez, psicanalíticas dos processos. É realmente um livro muito interessante.
Elias defende uma visão estrutural do mundo, com a ideia de estrutura entendida aqui como algo processual, conectado e dinâmico, não estático, apesar do nome estrutura nos remeter a algo rígido. É certo que ainda tenho muito a entender sobre estes conceitos, mas até o fim do semestre poderei melhorar esta definição.

Professor Osvaldo Pessoa Júnior na aula sobre
Fundamentos da Mecânica Quântica,
no Instituto de Física da USP
Noutro sentido, hoje assisti a aula do professor Osvaldo Pessoa Júnior, da FFLCH-USP, sobre Fundamentos da Mecânica Quântica e fiquei muito contente com a clareza da aula, o professor a todo o momento nos leva a refletir sobre cada conceito apresentado, sobre as diferentes posturas realistas ou fenomenológicas das diferentes interpretações que a física faz sobre os comportamentos da realidade do mundo do muito pequeno (em particular do mundo dos quanta).
Ficou claro que as interpretações sobre os fenômenos quânticos têm pressupostos realistas x fenomenológicos. Explico.
Os defensores da realidade independente dos observadores são os fenomenológicos, para eles pouco importa se a realidade é interpretada de uma forma ou de outra, no caso da física quântica se as entidades (elétrons, fótons, etc) são interpretadas como ondas ou partículas. O que interessa mesmo é que o fenômeno possa ser interpretado dependendo do ponto de vista do observador e que este possa alterar sua posição ou referencial de observação em relação a certo evento ou fato. Um exemplo citado foi que um agnóstico é um claro exemplo de um fenomenologista, visto que perguntar se Deus existe não faz nem sentido (lógico) para a descrição dos acontecimentos, é como dizer "Não interessa como a coisa é em si (ontologia), mas que os fatos, como são apresentados e vistos, são usados". Defendem esta ideia o físico Niels Bohr e toda uma classe de cientistas que procuram descrever os fenômenos do ponto de vista corpuscular e estatístico. Aqui não faz sentido perguntar como a realidade é antes de qualquer medição (ou detecção) e mesmo após a medição somente se cria um possível quadro de interpretação do fenômeno, sem contudo se posicionar sobre a sua ontologia.
Os realistas já acreditam que existe uma realidade independente da nossa (humana) e que os fenômenos e eventos possuem toda uma explicação. Dentre estes há os defensores da interpretação ondulatória que admitem apenas fenômenos quânticos descritos por ondas e que a observação de uma partícula, por exemplo, é um colapso da função de onda. Outros admitem apenas que existam partículas, mas não ondas. E outros, como David Bohm, que acreditam que associado a onda há uma partícula e que a onda guia a partícula. A imagem a seguir parece descrever bem essa interpretação.
Acredito que por hoje é só, pretendo em breve voltar a descrever mais atividades deste meu doutorado.

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